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Sepultados sem velório, em caixão fechado e isolados em seus momentos finais, os mortos pela Covid-19 no Brasil começam a ajudar os médicos a aprender sobre a doença e a impedir que mais pessoas morram.
Usando uma estratégia de autópsia minimamente invasiva, para evitar o contágio, cientistas da equipe de Paulo Saldiva, professor titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) se defrontaram com a "enorme agressividade do coronavÃrus" e encontraram pistas de seus esconderijos.
Ele apresentou os primeiros resultados numa sessão cientÃfica virtual na Academia Nacional de Medicina (ANM), da qual é membro. O trabalho foi realizado com as médicas e pesquisadoras da USP Marisa Dolhnikoff e Renata Monteiro.
Foi a forma que encontramos de investigar os corpos de vÃtimas dessa doença altamente contagiosa. As autópsias convencionais estão paradas. Então usamos tomografia, ultrassom e microscopia. Imagens de ultrassom nos guiam para retirar, por meio de punção por agulha, amostras dos órgãos. As amostras são depositadas num biorepositório para análises futuras. Já tÃnhamos empregado esse método antes.
Já usamos essa técnica para analisar o cérebro de vÃtimas do mal de Alzheimer. Também, por exemplo, em casos de jovens pacientes com câncer, que não sobreviviam ao transplante. E temos o duvidoso privilégio de esta ser a terceira vez em que estudamos doenças infecciosas com autópsias minimamente invasivas.
A primeira foi com o H1N1, em 2009. Fizemos mais de mil autópsias, é a maior amostra do mundo. E estamos observando que o coronavÃrus é mais agressivo do que o H1N1. Ele promove uma depressão muito grande do sistema de defesa. O corpo fica entregue à própria sorte.
A segunda vez foi com a febre amarela. Fizemos 80 autópsias. As vÃtimas tinham claros sinais de tempestade imunológica, a chamada tempestade de citocinas. Ainda temos dúvidas sobre as tempestades de citocinas na Covid-19. As autópsias nos mostram informações que de outra forma não arÃamos. Por isso, as famÃlias que autorizam as autópsias fazem um gesto fundamental. É uma doença contagiosa, os órgãos não poderiam ser mais usados. Então, essas famÃlias doam conhecimento.
Estamos no inÃcio. Mas já observamos enorme destruição, o coronavÃrus ataca com enorme agressividade.
Temos procurado ser os mais ágeis possÃvel. O resultado fica pronto de um dia para o outro. Reamos os resultados em reuniões regulares com o pessoal que está em atendimento nas UTIs.
Já fizemos 15 autópsias, apresentamos os resultados de dez delas. Mas a nossa meta é chega a cerca de 60. Com elas, queremos dar aos médicos uma chance de ver o que acontece dentro das células dos pacientes.
As dez vÃtimas da Covid-19 cujos corpos foram autopsiados primeiro tinham entre 33 anos e 83 anos, cinco homens e cinco mulheres. Três deles chegaram ao hospital para morrer. Já vieram muito doentes. Os demais ficaram até 15 dias internados. Com o estudo desses corpos queremos saber por que alguns casos evoluem tão depressa e outros se prolongam tanto até o desfecho fatal. Uma pessoa que ou 15 ou 20 dias internada e faleceu ficou 20 dias doente ou a infecção a afetou por muito mais tempo? Não sabemos.
Estudamos vários órgãos, como o pulmão, o fÃgado, os rins e o baço. Vimos uma agressividade impressionante do coronavÃrus. E sinais da resposta imunológica. Mas não sabemos como o coronavÃrus ilude a resposta imunológica. Queremos descobrir por que o coronavÃrus ataca com tanta avidez o sistema respiratório. Observamos que 80% das vÃtimas fatais sofreram microtrombos, principalmente nos pulmões.
São entupimentos dos pequenos vasos sanguÃneos. ObstruÃdos, eles param de levar sangue para os pulmões. O vÃrus de alguma forma causa trombose, queremos entender como isso acontece. Só assim os médicos poderão deter esse processo com mais eficiência, salvar mais vidas.
Também vimos muito comprometimento dos músculos, muita inflamação muscular. Isso pode explicar por que alguns doentes reclamam tanto de dores musculares.
Vários. Sabemos que o coronavÃrus se liga às células que revestem o sistema respiratório, esses mesmos receptores presentes nas células epiteliais do pulmão existem em vasos sanguÃneos, nos testÃculos, no cérebro. Ainda precisamos saber como é a ação do vÃrus em todo o corpo e descobrir se ele se liga também a outros tipos de receptores das células humanas e como ele deixa o sistema imunológico tão fraco.
Descobrir receptores é importante porque podemos tentar bloqueá-los e fechar a porta para o vÃrus. É uma forma de deter a infecção. São alvos para tratamentos. Para tudo isso precisamos de dados e as autópsias minimamente invasivas são uma forma de obter esses dados.
Sim. Planejamos fazer uma cartografia do coronavÃrus no corpo humano. Faremos isso por exames moleculares de PCR, analisando a carga viral, para saber onde se concentra e também onde se esconde. Achamos que o coronavÃrus tem reservatórios no corpo humano. Lugares onde ele se esconde. Sabemos que nos homens, por exemplo, vÃrus gostam de se esconder nos testÃculos. Estamos em busca de seus esconderijos
Fonte: USP, Min Saúde da Itália e da Alemanha