Geógrafa e escritora participa da feira em Poços de Caldas falando sobre o feriado nacional e como utiliza a literatura como ferramenta de divulgação da cultura indígena. "Para os povos indígenas a data é uma segunda independência, pois já éramos independentes antes da colonização", comentou Márcia Kembeba, poetisa e geógrafa indígena sobre o feriado de 7 de Setembro durante o Flipoços.
Márcia esteve no Festival Literário e aproveitou o feriado nacional para falar sobre a importância da valorização da origem brasileira, não sob a perspectiva da influência portuguesa, mas dos povos indígenas.
"Os povos que já estavam aqui muito antes do século XVI foram praticamente dizimados, expulsos e hoje em dia precisam lutar pela demarcação de seus territórios. E ainda somos olhados como entraves para o progresso e o desenvolvimento do país", comentou.
"Percebemos essa data não como uma data celebrativa, mas como uma data de reflexão, como está o Brasil relacionado a presença e manutenção dos povos indígenas?", completou.
Márcia Kembeba, poetisa e geógrafa indígena, durante o Flipoços
Beatriz Mendes/g1
Márcia disse que pretende, por meio do trabalho dela, fazer com que as pessoas reflitam e entendam que os povos indígenas são a origem, mas não são apenas fragmentos históricos do ado, já que há povos que ainda resistem mantendo a cultura viva.
Literatura como ferramenta cultural
A escritora se formou em geografia, é especialista em educação ambiental e foi durante seu mestrado, também em geografia, que lançou seu primeiro livro. Suas primeiras poesias foram escritas quando ela ainda tinha 14 anos, atualmente Kembeba tem cinco livros publicados, e está escrevendo o sexto.
"Percebi a literatura como uma ferramenta para falar sobre o povo Kambeba, mas meus parentes indígenas queriam que eu falasse sobre eles também, pois a dor deles é a minha dor. Depois comecei a fazer uma literatura mais ampla, para que outros povos se vejam nela, para abraçar todos os povos", disse.
Livros de Márcia Kembeba, poetisa e geógrafa indígena sobre o sete de setembro
Beatriz Mendes/g1
Além dos livros, Márcia tem um trabalho intensivo dedicado a levar a cultura dos povos indígenas e do Brasil pelo país e para o exterior.
"Quando se trata de literatura não é nada meu, é tudo nosso. Dessa forma consigo abranger a sociedade não indígena para fazer uma ligação, interligar mundos", falou.
A proteção ambiental também é um tema sempre relembrado em seus livros e durante suas agens, destacando a importância da Floresta Amazônica, informando sobre a riqueza presente nos biomas brasileiros e a urgência em preservar reservas de água.
Poços de Caldas sedia Academia Mineira de Letras
O dia da independência do país também foi escolhido como a data para a transferência simbólica da Academia Mineira de Letras para a cidade de Poços de Caldas (MG) durante o Flipoços. O ato também celebra os 150 anos da cidade, comemorado em 2022.
O presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Tavares, esteve presente no evento e comentou sobre a relevância de Poços de Caldas no cenário da literatura mineira.
"Poços de Caldas é uma das mais importantes cidades de Minas e do Brasil, o apreço e entusiasmo que Poços tem pela educação, pela cultura e pelas artes é antigo. A academia já queria prestar essa homenagem a Poços a muito tempo, e nada melhor do que fazê-lo durante o Flipoços", comentou.
Presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério Tavares, no Flipoços
Beatriz Mendes/g1
Rogério também destacou a importância dos eventos literários no incentivo à leitura, e na divulgação de livros, artes e escritores.
"As feiras e os festivais são fundamentais para dinamizar a vida literária e atrair novos leitores. A academia não pode orbitar em torno de si mesma, e sim encontrar as pessoas onde elas estão, viajar pelo interior, pelas cidades de Minas e levar a mensagem o que queremos promover", destacou.
Flipoços 2022
O Flipoços 2022 visa promover a literatura, música e a cultura brasileira. O evento é gratuito, aberto ao público e acontece do dia 3 de setembro ao dia 11, no Espaço Cultural da Urca.
Horário de funcionamento:
Dias 7 e 10 de setembro: das 9h às 21h;
Dias 6, 8 e 9 de setembro: das 7h30 às 21h;
Dia 11 de setembro: das 9h às 18h
A programação completa do evento pode ser ada por aqui (basta clicar).